Joel Stevao
A leitura pública das Escrituras na igreja primitiva era parte fundamental do culto. Encontramos nas cartas de Paulo uma série de recomendações para a leitura pública das suas epístolas. Em Colossenses 4:16, Paulo declara, “Depois que for lida esta carta entre vós, fazei que o seja também na igreja dos Laodicenses.” (AA). Em 1Tessalonissences 5:27, Paulo novamente reinforça que se faça a leitura das cartas, “Diante do Senhor, encarrego vocês de lerem esta carta a todos os irmãos.” (NVI). Também em 2 Coríntios 10:9, no contexto que Paulo está defendendo o seu apostolado ele menciona a leitura pública das duas cartas e expressa preocupação sobre o impacto delas sobre eles: "Não quero que pareça que estou tentando amedrontá-los com as minhas cartas”. [1]
A prática de ler as Escrituras como parte da adoração no culto, remonta a prática das sinagogas judias onde porções do velho testamento era rotineiramente lidas em alta voz. (Lucas 4:17-20, Atos 13:15, Atos 15:21).
Alguns afirmam que os evangelhos de Mateus e Marcos foram escritos com uma estrutura litúrgica que indicava que eles foram usados para a leitura pública durante todo o ano em adoração. [2]
Para os primeiros cristãos judeus convertidos na igreja primitiva era comum a leitura do Torah nas sinagogas, sendo que os evangelhos e as cartas de Paulo também eram considerados como escrituras sagradas tanto quanto os escritos dos profetas do velho testamento e eram lidas publicamente.
Justin Martin, apologista do segundo século escreveu o seguinte:
“No dia chamado Domingo, todos aqueles que moram na cidade ou no campo se reúnem um único lugar, e a memória dos apóstolos ou os escritos dos profetas são lidos, tanto quanto o tempo permite, então quando o leitor completa a leitura, o presidente verbalmente instrui e exorta que se imite essas coisas boas”.[3]
Essa memória dos apóstolos era referência aos evangelhos sendo o velho testamento também era lido. É interessante observar como Justin menciona primeiro a leitura das memórias dos apóstolos antes da leitura do Torah, mostrando que a leitura dos evangelhos precedia em importância à leitura do Torah.[4]
Kostenberger escreveu que essa comunidade cristã tinha uma preocupação e disposição para com os textos escritos e reconhecia a autoridade dos escritos dos apóstolos e a operação do Espírito Santo.[5]
Observo que na igreja atual não existe um incentivo para a leitura da Bíblia como adoração a Deus da maneira que foi ensinado por Paulo e feito na igreja primitiva. A igreja primitiva também cantava hinos, prática também trazida das sinagogas. Mas a leitura da Bíblia e o ensino tinham primazia sobre as outras coisas. Paulo exortou a Timóteo dizendo: “Dedique-se à leitura pública da Escrituras, à exortação e ao ensino. (Tim. 4:13).
Não precisamos copiar tudo exatamente como a igreja primitiva fazia, mas acho que precisamos trazer de volta a leitura da Bíblia nos cultos como adoração a Deus. Essa falta da leitura da Bíblia tem levado os cristãos a uma “falta de conhecimento bíblico”.
Estamos vivendo numa época onde estamos ficando famintos da Palavra de Deus e pouco a pouco estamos morrendo espiritualmente. Se isto parece exagero, aqui estão alguns dados de alguns estudiosos do assunto.
O professor do Wheaton College, Timothy Larsen, comenta que "foi demonstrado que o conhecimento bíblico continua a diminuir”. Pesquisas do Gallup confirmam a descendente estatística.
O teólogo Michael Vlach, em seus escritos “As Nove Questões Mais Importantes Enfrentadas pela Igreja Evangélica" cita a falta de conhecimento bíblico nas igrejas como preocupante. Ele concorda com a avaliação de George Barna, de que o corpo cristão na América está imerso em uma crise de falta de conhecimento da Bíblia".[6]
O estudioso do Novo Testamento David Nienhuis, resume sua compreensão da situação em um artigo intitulado "O Problema da Falta de Conhecimento Bíblico Evangélico: Uma Visão da Sala de Aula". No artigo ele diz:
“Há mais de vinte anos, os líderes cristãos lamentam a perda do conhecimento bíblico geral na América.... Alguns entre nós podem ser tentados a buscar consolo no estranho reconhecimento de que nossa cultura é cada vez mais pós-cristã, mas para nosso constrangimento, no entanto, tornou-se cada vez mais claro que a situação realmente não é melhor entre os cristãos confessos, mesmo aqueles que afirmam manter uma alta consideração pela Bíblia.”[7]
A falta de leitura da Bíblia pode levar ao enfraquecimento da fé, pode levar a idolatria, a sermos sermos enganados pelo inimigo, enganados pelos falsos líderes religiosos, pelos falsos mestres e outros charlatões.
O mais importante é que Deus ordenou que devemos conhecer a sua palavra (Josué 1:8), por que ela traz luz para os nossos caminhos (Salmos 119:105), porque é nela que conhecemos a Deus (Jeremias 9:23-24), porque não só de pão vive o homem mas de cada palavra que sai da boca de Deus (Mateus 4:4), porque só nas Escrituras temos esperança (Romanos 15:4), porque ela que nos faz crescer para a salvação (1 Pedro 2:2), porque nos ajuda a não pecar contra Deus (Salmos 119:10-11), porque não teremos do que nos envergonhar (2 Timóteo 2:15), porque nos faz crescer na fé (Romanos 10:17), porque ela nos santifica (João 17:17), porque a Palavra de Deus é a verdade que nos liberta (João 8:32), porque as Escrituras não passarão (Mateus 24:35) porque nela encontramos a vida eterna (João 5:39-40).
[1] Andreas J. Köstenberger, The Heresy of Orthodoxy (Illinois: Crossway,2010), 133.
[2] Ibid.,114.
[3] 1 Apol, 67,3.
[4] Andreas J. Köstenberger, The Heresy of Orthodoxy (Illinois: Crossway,2010), 134.
[5] Ibid., 136.
[6] http://magazine.biola.edu/article/14-spring/the-crisis-of-biblical-illiteracy/ accessed on 9/1/2020
[7] https://thebattlecry49.com/2013/07/24/the-problem-of-evangelical-biblical-illiteracy-a-view-from-the-classroom-david-r-nienhuis/ accessed on 9/1/2020.